Fui serrado pelos dentes ressecados do Cerrado.
Pisoteado pelo estouro do gado que invadiu o asfalto.
Vejam só o meu estado; chega, não quero mais!
Porque certas saudades tenho demais!
Peguei as malas e tranquei a casa.
Burlei o tempo, parei na Villa Boa de Goyaz.
Caminhei os meus sonhos por aquelas ruas de pedras...
O vento trazia do campo um doce aroma de ervas.
Ela estava à janela, convidou-me a adentrar o seu humilde lar.
Era a Casa Velha da Ponte da Lapa, é onde a sua alma ficava.
Sentei-me à mesa da sua gentileza, eu comi curau com Cora.
Noutra hora, a doce senhora me serviu um bom arroz com pequi.
Logo ela viu que eu não era dali: meu jovem rapaz, por que chora?
Não se acanhe, puxa um banco , assente-se mais próximo de mim.
Esta vendo a Ponte da Lapa, ali passa mais do que água, flui a poesia!
Pegue um copo, se embebeda dos versos, não terá mais sede nos dias.
Jovem moço, a vida para uns é um sopro, a outros, um eterno desgosto!
Sorri entendendo o que dizia a serenidade daqueles olhos, segui em paz...
Ainda olhei para trás, avistei a Casa Velha da Ponte abaixo de um monte.
Senti-me criança quando parei e sujei a boca com amoras, fui me embora!...
Em casa, encontrei os dentes do serrote do Cerrado, molhados e enferrujados.
Mas estava abençoado, deixei nos muros da cidade versos dando meu recado.
Fora benzido pela Aninha, já não tenho mais medo de nenhum mau-olhado.
Desci a avenida Anhanguera,vi o Diabo Velho, não importa, acendi uma vela!
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Autor: ChicosBandRabiscando
Cora e curau
Créditos:https://www.museucoracoralina.com.br/site/institucional-galeria/
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