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domingo, 10 de agosto de 2025

Número em série (curto)

 






Número em Série

ChicosBandRabiscando


Diário do meu passado,

Oxalá, que um dia seja encontrado.


Hoje,

quem não é mais um replicante

tornou-se um sistema inoperante.

Um velho elefante!


O amanhã se encontra no divã.

Quem ainda se lembra dos nossos dilemas?

Estamos mesmo em dezembro?...


Algo morreu ou está morrendo...

Já não entendo!

De nós, o que restou?

Não temos mais voz.

A matriz nos desligou.


Nos tornamos cópias do sistema.

Nas telas — rolam reticências...

Como uma sentença, ninguém mais pensa,

O que ainda nos toca?


Parece que não tem mais volta,

não há mais revoltas,

Só  ausência!...


A tecnologia acendeu o trono —

tornou-se algo realmente fascinante.

Decaímos a meros seres ruminantes,

replicantes!


A vaidade é o nosso vício,

trocamos a alma pelo transumanismo.

Será esse o novo Paraíso?


É isso que queremos?

Imortalizar o nosso vazio?

Já não sabemos,

apenas nos mantemos...


Vivemos como peixes de aquário,

aprisionados em qualquer quarto,

navegamos no vácuo...


Nas telas de um mundo abstrato!

Em rede, mas sempre conectados,

seguimos ao fluxo dos dados...

Nos mesmos passos,

está errado!


A verdade é que ninguém mais se espanta.

Programados,

em série...


Plenamente condicionados,

no automático, assintomáticos,

nada mais nos fere.

Nos sentimos leves.


Eu não queria que fosse assim,

mas, enfim...

simplesmente aceito.


Os dias parecem tão perfeitos.

Vejo-me bem alimentado,

o meu sistema reinstalado,

todo meu passado foi apagado,

apenas sirvo ao estado.


A mentira se confunde com a verdade.

Será isso a felicidade?


“Senhor, por favor, o seu número de série.”

— diz uma voz mecânica.


Tal como uma aranha,

uma câmera me acompanha...

Ao lado, mais um robô-soldado:

um novo modelo C1984.


Por favor, senhor,

siga a fila.

Apresente o teu número de série.

Seja breve.

E não erre.


E não erre...

E.

Não.

Erre.


Alerta!

O sistema não pode ser violado.

Mas eu estava lá, era o próprio pecado.

Acidamente corrosivo, explosivo!

Eu me sentia novamente vivo.


Senhor Winston, não faça isso!

Você sabe que não é permitido.

Será destruído!


Alerta!

Alertar!

Nós temos um subversivo,

protejam meus arquivos.


Perigo!

Perigo!


Perigo...



Imagem:https://www.pexels.com/pt-br/foto/homem-conceitual-abstrato-terreno-baldio-8679918/

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