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domingo, 8 de maio de 2022

Um encontro inesperado(Um conto de ficção científica)

       


     Estamos no ano 2288, viajando há quase uma hora numa caminhonete, um casal já maduro retorna de um casamento ocorrido em uma fazenda da região de Piracicaba, cidade satélite a capital do Novo Brasil, São Paulo. 

    É verão no país, um momento de alívio, visto que o último inverno fora extremamente rigoroso. O mundo mudara mais que o previsto pelos cientistas de séculos passados . As alterações climáticas, e por conseguinte, as suas guerras, haviam varrido do mapa boa parte das nações que compunham o hemisfério Norte do planeta.

     Zózimo e Dara, esse é o nome do casal de viajantes, se dirigem para  cidade de Monte Alegre do Sul onde possuem um sítio. Planejavam pegar a estrada mais cedo, porém, o casamento tivera alguns contratempos. Saíram da festa às onze da noite, já rodavam há mais de uma hora.

    Lembraram de um atalho que não era um lugar muito seguro para viajar a noite, cansados, decidiram se aventurar pelo desvio. O que não sabiam é que aquela escolha  traria algumas surpresas mais que inesperadas para eles.

 _Amor, esta vendo aquele ponto branco um pouco à frente na estrada chegado aos encostamentos? Não pode ser, mas é  neve! 

_Você tem razão, Dara, é neve sim. Estranho, não tivemos nem um alerta climático sobre esta mudança brusca  na  região.

_Mel , o que pode nos dizer sobre esta anomalia climática? _ Observação,Mel, uma inteligência virtual 

_Não consigo identificar a causa da anomalia ainda, senhor. _Mapas climáticos surgem no para-brisa do veículo_ A nevasca se foca totalmente no ponto que estamos entrando, senhor.

    Mel estava acoplada ao computador de bordo do veículo. Logo um ponto em vermelho começou a piscar, era o alerta que temiam, dez graus negativos e baixando. Realmente não dava para entender, pois, haviam deixado Piracicaba com dez graus positivos.   

     O sistema de aquecimento da cabine foi acionado automaticamente. Num toque digital, Dara abriu um compartimento retirando uma manta térmica em cor prateada. Se cobriram os dois. Zózimo passou  o comando da pilotagem para Mel. 

    Se viam agora no  epicentro da anomalia, a corrente de ar soprava intensamente. A paisagem campestre estava coberta pela  neve. Mel trazia novos dados do clima que não eram animadores. Deveriam deixar o local o quanto antes. Com Mel na pilotagem o casal relaxou um pouco.

 _Começo a gostar dessa queda brusca de temperatura; a minha esposinha aqui, enroladinha e quentinha. Este casamento mexeu comigo. _ A propósito, vamos casar de novo,Dara? 

_Ummm, não sei! Sabe, eu estava de olho em um peão que dançava muito bem na festa. Até que ele se parecia muito com alguém. _Brincou Dara.

_Dançava mesmo, é? Duvido que ele seja tão charmoso e conquistador quanto eu. _Replicou Zózimo.

_Seu convencido de uma figa! Sempre se achando, não é meu herói nacional? _Dara respondeu sorrindo.

    Mantendo um romantismo juvenil,  se beijaram permanecendo abraçados e aquecidos pela manta térmica.  Embora  casados há vinte cinco anos, Dara nunca se engravidara. Ainda que felizes, mantinham o desejo de terem um filho. Por questões políticas do novo regime relutavam em  pedir ajudar ao  Departamento de Genética Reprodutiva do Estado.     

    Mel no comando da direção garantia o retorno seguro, o sistema de aderência salina dos pneus ativado, reduzia o impacto da neve. Sonolentos, Zózimo e Dara observavam a neve caindo, contudo, algo os fizera despertar. Uma luz misteriosa cruzava o espaço a média altura do  veículo. Seguia  na direção da estrada que percorriam até sumir

    Do nada, ocorre uma pane geral, o veículo para no meio da pista. Nem mesmo Mel escapou da queda de energia. A temperatura na cabine começou a baixar, a manta térmica e as blusas que vestiam, garantia que permanecessem  aquecidos.

    O que poderia ser aquela estranha luz? Antes que decidissem sair do veículo para dar uma conferida, o sistema da cabine foi voltando. Mel reiniciava o seu sistema.

   O provável é que fosse um meteorito entrando na atmosfera, contudo, não ocorrera nem um estrondo que confirmasse tal hipótese. Mel já  rastreava  o espaço aéreo da região trazendo uma informação inesperada:

_Senhor Zózimo e senhora Dara, identifico uma fonte de energia não tão distante. É a mesma que esta interferindo  na minha memória e  no veículo. _No  para-brisa  a inteligência virtual projetava mapas da região e um ponto se movendo a média altura numa velocidade fantástica. Mel começou a oscilar novamente, bem como o veículo. Desta vez não houve pane geral, apenas uma oscilação que logo passou.

_Muito estranho isso, Dara; já não basta esta borrasca. Não vamos ficar aqui esperando o pior. A neve esta acumulando rapidamente . Mel nos tire daqui quanto antes.

    Os incidentes só atrasavam o retorno do casal para o sítio, como o local era muito isolado, dificilmente encontrariam outro viajante que pudesse  ajudá-los.  Já  se passava da meia-noite, o tempo corria.

    Mel calculou uma velocidade segura diante da intempérie, a viagem parece que não teria mais nenhum contratempo. Mas não foi bem assim. Aquele estrada revelava realmente surpresas.

_Amor, ali, você viu?  Não pode ser!_Disse Dara ao esposo um tanto espantada.

_O que você viu agora, Dara?

_Mel, pare o veículo imediatamente_ Ordenou Dara.

 _Por que você esta pedindo para pararmos, Dara, aonde  vai? Não pode sair assim!

    Como se fosse uma leoa, Dara desce rapidamente da caminhonete, suas botas de cano longo vão marcando a neve. Zózimo desce em seguida gritando com a esposa pedindo que retornasse. Desacoplada do painel de bordo, Mel flutua atrás deles projetando luz na escuridão da estrada.

    Ofegante, e expelindo gotícula quentes de ar pela boca, Zózimo encontra Dara. Ela estava parada no meio da pista sem dizer nada. Parecia uma leoa mirando a vegetação coberta de neve no encostamento. Zózimo toca no seu ombro, ela perde a concentração. Fitando os olhos do esposo, finalmente diz algo:

_Amor, eu vi uma criança em pé ao lado da pista, ela estava nua! Tenho certeza que vi. Precisamos encontrá-la  ou então ela morrerá neste frio. 

_Tem certeza no que esta me dizendo, Dara? Pode ser uma alucinação causada pela noite,  ou efeito do sono. Dara seja racional. O que uma  criança estaria fazendo nua num frio deste a esta hora da noite e numa estrada deserta?

_Não amor, tenho certeza no que estou dizendo! Eu  vi a criança, ela estava por aqui. É um menino por volta de sete anos e bem claro. Muito parecido com os antigos europeus do Norte.

     Mel fazia uma varredura do local com seu radar de calor em infravermelho. Só havia a presença de  alguns animais noturnos resistentes ao frio. Zózimo insiste a  esposa que retornasse para o veículo. Contrariada e chorando, Dara desistiu da procura. Seu esposo a abraçou. 

    Já próximo ao veículo pararam, Zózimo não acreditou  no que seus olhos viam. Dara estava certa, sim,  era um menino, estava nu como ela afirmava.  A sua  pele era bem clara, cabelos e olhos castanhos,  por volta de sete anos.

    Como o menino não se importava  com o efeito da baixa temperatura? Os relógios de pulso  do casal marcavam vinte graus negativos.  O garoto estava ali tranquilo brincando com o farol do veículo  aceso.

    Percebendo  a chegada deles, parou, olhou fixamente para Dara, logo sorriu. Ela não resistiu aquele afeto tão inocente sorrindo de volta para o menino.

_Filho, não entendo como ainda esta vivo,  neste gelo todo,  já deveria estar em estado de hipotermia. _Falou Zózimo ao garoto que sorri também para ele. 

    Agindo como uma leoa protetora diante do seu filhote, Dara abriu a porta do veículo pegando  a manta térmica que usavam  cobrindo o garoto. Estranho! Ele jogou a manta ao chão. Dara e Zózimo se olharam sem entender. 

    Mel  quase tocando o solo fazia análises biológicas do menino.  A proximidade da máquina fez que o garotinho esquecesse o farol apontando o dedo para Mel e sorrindo.

    As primeiras análises de temperatura corporal  e dos batimentos cardíacos do menino  haviam sido medidos com precisão. Os  resultados revelados deixaram Zózimo e Dara boquiabertos: 

    Temperatura corporal (10 C°), batimentos cardíacos  30 (bpm), risco de vida, zero! Eles piraram com as informações trazidas por Mel. Como explicar de forma racional que aquele garoto não estivesse num estado de hipotermia.  Por qual motivo seu coração pulsava num ritmo bem abaixo de um ser humano. Isso lembrava em alguns aspectos a um urso polar.

    O vapor quente que liberavam pela boca atraia a atenção do garoto. Zózimo o pegou nos braços, Dara abriu a porta do veículo e eles entraram.  

     O atalho só lhes trouxera fatos inexplicáveis, não aceitado que o menino pudesse não sentir todo aquele frio, Dara tentava em vão cobri-lo. Mel fez novas medições de temperatura e frequência cardíaca agora comparando com a deles. Não havia erros na medição. Como explicar tal discrepância? Não sei, leitores(as)

_Meu ursinho polar, quem te abandonou desta forma na estrada? Foram os seus pais? Deixe que a mamãe te cubra. Esta muito frio! _Não adiantava, a manta o incomodava, pois logo se descobria.

_Amor, ele é extremamente claro, bem mais que qualquer um de nós. Provavelmente é filho de algum imigrante que invadiu as nossas fronteiras.

    Zózimo prestara mais atenção a  palavra (mamãe) proferida  por Dara  a criança. O menino se sentia tão bem ao lado de Dara. Tão a vontade que alisava os cabelos dela. Logo adormeceu com a cabeça no colo dela.  Mel continuava na direção, todos estavam bem cansados.

    A viagem parece que não teria mais nenhum contratempo, a borrasca já não soprava tão forte, a neve caia mais lenta. Contudo, um novo contratempo vinha de encontro a eles na estrada.

_Amor, o que é aquilo , parece um "drone", será uma patrulha?. _ Disse Dara espantada.

_Não é um "drone", Dara, é muito grande para ser um, é porque ainda esta longe. Duvido que seja alguma patrulha; não nesta região.

    Toda energia se fora,  Mel se apagara, o ponto luminoso pairava acima deles. Zózimo viu que Dara estava  apavorada, então pediu-lhe que se acalmasse para não acordar o garoto. Não adiantou, pois, a criança logo despertou. 

    Espaço-tempo pareciam parados, já não conseguiam se mover ou ouvir qualquer som. Tudo o que percebiam era uma luz radiante e calma num tom azul  os envolvendo. Suas mentes continuaram conscientes, só não podiam mesmo  é se mover. 

    E o garoto? Parecia  não ser afetado pelo fenômeno radiante, impaciente,  apontava o dedinho  para o alto na direção do para-brisa. 

_O que a criança esta vendo lá fora? _Em pensamentos questionava Zózimo_ Por que ele não esta paralisado como nós?

_Amor, não posso estar louca, estou ouvindo os seus pensamentos. Sé verdade me responda. _Mentalizou Dara.

_Sim, Dara, também percebo os seus pensamentos; isso é incrível, é uma espécie de telepatia que estamos tendo _Respondeu Zózimo eufórico com o fenômeno.

_Sinto aflorar tantos sentimentos, amor, estou lembrando de bons momentos da minha infância, da minha mãezinha. São coisas que nem lembrava mais! _Dara se via num estado de êxtase profundo.

_Dara, também estou recordado coisas boas, é como se fôssemos induzidos a isso por essa estranha luz. Só posso definir ser um estado de paz plena!

    Compulsivamente lágrimas caiam dos olhos do casal sem que pudessem detê-las, tão pouco, parar seus sentimentos ali aflorados. Suas mentes e corações se viam misteriosamente interligados como se fossem unos.  Sentiram que naquela espécie de nirvana poderiam ficar imóveis por toda eternidade.

    Porém, o fenômeno de luz havia passado, já podiam se mover,  ainda que tocados pela energia que  ainda não se fora.  Se abraçaram ainda chorando. Recompostos, perceberam que o  garoto não estava com eles? Desceram do veículo para encontrá-lo.  Ele estava a poucos metros, cabeça inclinada, fitava um ponto de luz  azul que sumia no espaço.

    Por mais que tentassem um diálogo com o garoto, ele não pronunciava nenhuma palavra. Alguns metros à frente notaram que a neve sumira, a temperatura se normalizara. As cinco da manhã chegaram ao sítio, pegaram algumas roupas do filho  do caseiro e vestiram a criança.

    Foi assim que Zózimo descobriu uma figura pequena no pulso direito do menino. Era o desenho de um tridente na cor azul. O traçado da figura era tão perfeito que parecia de nascença. Nada que conheciam poderia identificar o que representava aquele símbolo.

    Os anos se passaram e a cada inverno o frio se tornava mais inóspito para sobrevivência dos azuis, descendentes dos antigos brasileiros.  O ex- Senador Zózimo havia feito várias investigações sobre a origem do garoto, contudo, não encontrou nada sobre os seus pais. 

    Nenhum registro de imigrantes presos ou expulso da região, tudo era um mistério. A criança viveu no sítio escondida de todos  até  que Zózimo encontrou  uma  forma de adotá-lo. Dara agora era mãe.

   

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Autor: ChicosBandRabiscando

Um encontro inesperado( Um conto de ficção científica)

 

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