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domingo, 30 de setembro de 2018

O homem e a colher


Não vista esta máscara,
tire-a de tua face.
É fantasia de morte,
da tua sorte.
Da tua pouca sorte.
Por isso lhe digo,
lave o teu rosto.
Cure as tuas lágrimas,
dos teus desgostos.
De um coração ferido.

Cabra da peste,
eu bem  sei donde vieste.
Alma sofredora,
você é semente boa.
Um filho do sertão, 
do meu coração.
O sertão dos agreste.

Sei que és um homem de fé,

daqueles que   oram.
Roga a Deus todo santo dia...
Saiba que o céu te ouve,
é Nossa Senhora.
Ela sabe o que tu pedes,
entende porque choras,
E assim, ela intercede.


Se na boca tem poucos dentes,

mas,resistentes.
E assim, tu vais raspando tudo....
É a tua luta contra a fome.
Um homem e tua colher.

Por isso lhe digo,

meu bom homem.
Não importa se teu olhar é triste,
sei que nele um poema existe.
E na escola da vida tu não faltas,
tens sempre uma boa nota.
É verdade,
a vida te é uma prova.
É exatamente isso o que nos falte.
É ter fé ,
é ter coragem.

___________________________

Autor: ChicosBandRabiscando
O homem e a colher


Agradeço de coração ao nosso grande fotografo naturalista, Araquém Alcântara.
Foi muito gentil ao atender ao meu pedido. É uma honra  ter uma das tuas fotos ilustrado o meu poema.

Créditos da imagem:
https://araquemalcantara.com.br/contato/
https://www.instagram.com/p/B7MDMgJFyg4/
https://br.pinterest.com/pin/98375573085407006/
                                                                                                                           








garota.com



Baby,
cada um conquista o mundo com as armas que tem.
E você, meu bem, ah, isso você tem!
Tem de sobra, porém eu estou aqui a resistir.
Pois, você não me dobra!

Perfeito modelito designer,
são todas essas tuas curvas.
Nenhum colchão suporta  a tua chama;
é muito mais que um papel de presente.
É a "Femme Fatale".

Vou logo lhe avisando, rostinho lindo.
Você tá fora das minhas leis.
Tá ocupando a  minha cidade.
Eu já não duvido, logo será presidente.

Hoje veio embalada num vermelho;
não serei presa fácil, tipo lenha pra queimar.
Ao teus olhos eu não me atrevo.
A garota tá armada, eu não vou me apaixonar.
Tô fugindo da tua cilada.
Toda esta cidade já lhe pertence.

Não brinque assim, deixe o meu coração em paz.
E para o seu governo, tô de placa de aviso.
Um homem não pode vacilar tato assim.
Já aprendi certas lições dessa vida.
Você é um  produto da lei de seleção natural.
Tem um coração lindamente jovem, entretanto, selvagem!
Lamento lhe dizer, querida, mas você não sabe amar.

Por isso lhe peço, não me leve as tuas curvas.
Eu sei deste risco.
Tá na cara, você tem todas as armas.
Sabe muito bem como me fazer cair.
E se tudo isso acontecer novamente.
Será que você vai me levantar ?

Não sei se acredito que a garotinha cresceu.
Se tá pronta pra me amar?
A única certeza  que eu levo, baby.
É a que trago no meu bolso esquerdo.
Você só sabe jogar.

E agora, você tá pronta pra perder ?
Tá querendo se encontrar ?
O teu  lance eu já conheço.
Sei da simetria da tua boca.
Você tem um  sorriso lindo!
Incrivelmente polar. 

Vai...
Saia pra caçar.
pratique o teu hobby predileto.
Sempre tem um homem por perto.
E antes que fiquemos loucos,
nós somos bobos.

Não é uma questão Freudiana;
é o teu par de pernas, teus  olhos.
E assim, você nos engana.
Presa fácil pra mais uma caça.
Ai, você volta pra casa.

E hoje novamente a tua teia tá armada.
Confesso, já amei os teus lábios.
Mas não vou cair; tô fugindo dos teus números.
Não quero mais essa cilada!

No mais......
Tudo agora é um improviso.
Garota.com,
tá retocando o seu batom
Será que eu resisto ?

____________________________

Autor: (ChicosBandRabiscando)
Garota.com





Obs.: há vários sites com esta imagem, logo não consigo
dar os créditos ao autor(a) da imagem.
Tendo algum problema excluo a imagem do poema.



sábado, 15 de setembro de 2018

Ao mar


Chego quando o sol se despede.
Pela praia deixo os meus chinelos.
E assim te sinto quando me vens.
Pois,
em mim você deságua.
Amo-te por essas águas.
Por elas também navego.
Pelo tanto que te quero.
Que eu te quero.

Hoje eu fiz mais um castelo,
libertei novas  saudades.
Digressão,
é tudo o  me invade.
Passos lentos,
vou deixando marcas,
Piso toda a areia.
Há quantas ondas você me chega!
Bombeia....
Bombeia....
Você é  sangue nas minhas veias.

Venha de onde vier
Sou a saudade que te quer.
Atraca em meu coração,
molha os meus pés.
Das ondas seja a espuma.
Borbulhas de uma entrega.
Pois, 
em mim,
você navega.

Assim,
ponha fim à tristeza,
a solidão.
Não me canso de riscar esse  chão.
Fiz da praia o teu nome.
Do vento,
tua direção
Finquei-me nessas  pedras,
tornei-me o teu porto.

Cansei de ser ilha.
Por isso,
não  me deixe á margem.
Perdido sem teu paraíso
Na mente também navego.
Sou um  barco indeciso.
Com você tudo supero.
Preciso do teu sorriso.
Navegar-te é preciso.

Tristes os fins de tarde.
Quando te vejo feito miragem.
Mas a ti não me nego.
E assim eu trafego.
Vou além desse mar....
Pra te encontrar.
A te encontrar.
Porque Te amo.
Porque te espero.
Deixa em mim tua bagagem.
Finda agora tua viagem.









                                                 Autor:   Francisco de Assis Dorneles











Credites Image by <a href="https://pixabay.com/pt/users/RPN-685308/?utm_source=link-attribution&amp;utm_medium=referral&amp;utm_campaign=image&amp;utm_content=3400594">RPN</a> from <a href="https://pixabay.com/?utm_source=link-attribution&amp;utm_medium=referral&amp;utm_campaign=image&amp;utm_content=3400594">Pixabay</a>


segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O anjo da caixa



Não ouse tirar esta tesoura das minhas mãos.
Será que você não entende?
Veja as minhas asas.
Elas simplesmente crescem.
Maldita é toda esta plumagem!
Luto com todas as minhas forças,
porque não as quero!
Prefiro estar á margem.
Porém,
todo santo dia é a mesma coisa....
Por que não desaparecem?
Estão em conluio contra mim.
É assim que elas agem!

Por favor, pare!

Não quero que me olhe assim.
Nada de ter pena.
Pena de mim!
Deixe-me, preciso continuar cortando...
Esta é a minha guerra.
É muito mais que um dilema!
O que me importa se já não desaparecem.

Olha, não quero ser tão repetitiva.
Mas dá para virar a tua face?
O teu olhar me incomoda.
Não faça isso, nem pensar!
Vá tirando as tuas mãos desta corda.
Quem lhe disse que eu quero me libertar?
Deixe assim como está.
Pois saiba que não irei mudar!


Fique tranquilo,

o meu caso de ódio não é com você.
É com esta tesoura.
Não queria lhe dizer.
Por isso, te falarei bem baixinho:
Tem horas que eu até gosto delas.
Passam uma sensação de leveza.
Contudo, sei que é apenas uma ilusão.
Asas foram feitas para pesar.
Continuarei a negar. 
Negar que me tragam  prazer de viver.
Deixa está, logo resolvo isto.
Vou acabar com estas penas.
É tudo o que me importa.
Não tem mais volta. 
Eu me entreguei a revolta!

Dane-se o sol.
Não passa de mais um atrevido!
Veja só, está se achando. 
Todos os dias chega até mim.
Tem as vestes lindas de um pregador.
Se atreve aos meus ouvidos.
Fala-me do mais puro amor!
Será que não vê que não quero?
Eu grito, me desespero!
Vago neste labirinto.... 
Já não encontro os meus elos!
Nem sei mais se os quero (?)
 
Porque já não consigo,não me sinto! 
Só queria me ver em algum porto.
Tudo isso me aborrece.
Navego pela tempestade... 
As águas vem, me invadem!
Sou os restos de um naufrágio. 
Uma presa indefesa deixada em uma Ilha.
Vou morrendo assim, dia a dia...
Eu já não encontro a alegria!


Deixe-me a sós. 
Não quero saber dos teus versos.
Ninguém pagará pela minha fiança.
Não tenho mais esperança!
Por mim a vida passa...
Não, não passa!
Deforma-se, me amassa!
Fico aqui, prisioneira nesta caixa.
Vai-te a minha idade.
Vá a frente,eu, atrás.
Sou um ontem?
Sou um talvez?
Ou um nunca mais?
Não sei!

Nada mais que sinto tem graça.
Só esta dor me abraça.
Queria poder me mexer, me ver!
Mas de onde veio esta faca?
Tire-a de minhas mãos.
Eu te odeio,solidão!
Faz me sentir tão fraca.
Não consigo entender?
Por favor,tente me dizer!
Quem pôs em mim esta mordaça?
Quem é que me cala?


Bem que eu queria...
Amaria pisar novamente este chão.
Mas ir lá fora?
Ah, isto não!
Definitivamente,não!
Obrigada,quem sabe uma outra hora.
Agora saiam vocês dois.
Tenho mais penas a cortar.
Não quero ninguém para me atrapalhar.

Podem levar o meu sorriso,
 
também este porta-retratos.
Eu já não preciso!
Hoje não quero saber de memórias.
Ficará apenas eu e o meu  quarto.
não sei mais onde estou? 
Vejo-me perdia na minha própria história.
Tal como um fantasma, vago pelo meu passado...
Perambulo por um presente tão ausente...
Eu só queria poder calar minha mente!
Porém,não consigo.
E assim, eu sigo...
Sigo negando a qualquer afago!

Tudo é tão vago....

Ausente de qualquer sentido...
Tornei-me um espectro em perigo!
Às sombras, temo a força dos raios.
Não perca seu tempo tentado me esclarecer.
Pois será que não vê?
Não vê que não estou nem ai?
Que não quero nem saber?
Apenas caio, caio!

Peço agora que saiam.

Fecharei todas as janelas,
baixarei as cortinas.
Acostumei-me à neblina, é minha sina!
Vago perdida no lado escuro da lua...
Por isso,nada que diga  me seduz.
Seguirei só com a minha cruz.
Ponham-se todos para fora,agora.
Fora! Fora!
 

Por que você ficou?
Aliás,eu não te vi com eles. 
Como foi que aqui entrou?
O que!
Também tem asas?
Ah!Já entendi.
Então este  é o teu plano.
Pensa então reensinar-me a voar.
Que pena!
É, 
lá vem as malditas penas de novo.
Sempre elas! 
Contudo, não preciso.
Não as quero mais.

Não enxugue minhas lágrimas.
Porque talvez eu não mereça.
Por favor,desapareça!
Tuas mãos,o que têm nelas?
Confesso seduzida pelo seu toque.
Quem dera se eu me amasse!
Até parece que já vivi este carinho.
Teu afeto me faz sentir que não estou sozinha.
Onde estão os meus disfarces?

Mas quem é você?
Seria a minha paz?
Olha,vou logo lhe adiantando, 
Eu tenho um rio sobre os olhos!
As minhas lágrimas são assim,
pois não se secam jamais.
Nem eu mesma gosto de mim.
Sem nenhuma pena, me cobro.
Choro esperando pelo fim!

Orar?
Não.
Eu já não oro.
Alias, nem tento mais.
Por quê? Não consigo.
Simplesmente não consigo!
Fico atrás,
aceito os meus castigos.


Por favor,
não mexa nesta agenda.
Ela guarda os meus segredos.
Se abri-la talvez faça me sentir mal.
Peço desculpas, mais é  confidencial.
Quer então quebrar os meus medos?
Tudo bem,então leia.....
Saiba que não taparei os ouvidos.
Afinal, nada mais me importa.
Talvez eu já esteja até morta!

A garota dessa agenda já não sou eu.
Não passava de um tola.
Era ingênua,altruísta e sonhadora!
Há quanto tempo não releio as suas frases.
Você me plantou  uma dúvida:
Quem se tornou peça de museu?
Ela,ou será eu?

É,
você conseguiu.
Parabéns,senhor anjo!
Injetou vida nova em minhas veias.
Vejo que é um serafim audaz.
Onde esta?
O que fez com a minha venda?
Por qual motivo a tirou?
Meu Deus!
Nem me lembrava mais disto.
O céu ainda é tão lindo!
Por favor, quero provar mais desta Ceia..

Um espelho?
Ah! Já entendi.
Quer então que eu me veja.
Hum! Não sei?
Eu ainda tenho receio.
Mas é tão belo o Paraíso!
Novamente o reconheço.
Não quero mais esta descida!
Desperto estão os meus olhos.
Porque aqui levanta esta alma caída.
E isto não tem preço! 
Bendito seja o meu recomeço!


Belo anjo,

por acaso  é um mágico?
O chamarei de o mágico do espelho.
Por que me transformou?
Onde é que estou?
Voltei a ser aquela mocinha.
É,eu era tão linda!
Linda e cheia de vida.

Mas quem é ela?
Não a vi entrar.
Já sei, é mais uma das tuas surpresas.
É para mim? Obrigada!
Espere...
Eu reconheço estes vestidos.
Como?
Ainda tão coloridos!
Como você faz isso?
E estas sapatilhas?
Não acredito! 
Também as reconheço.
Eram as minhas favoritas.
Tudo isso me faz lembrar da minha família.
Será que estou vivendo uma fantasia?

Por Deus! C
omo não a reconheci?
É você! Mamãe!
Então é amiga deste anjo que agora amo.
Já sei,não precisa nem falar.
Peço desculpas pelo meu desleixo. 
Mamãe, é que eu ando um pouco doente.
Só um instante,vou ali pegar um pente. 
Ah! Como tenho saudades disto! 
Mamãe, por favor, me penteia.
Refaça as minhas tranças.
Ainda sou a tua criança.

Meigo anjo,já não me é estranho.
Mesmo que estivesse entre mil outros rostos.
Pois o reconheceria, de novo e de novo... 
Deixe que eu afague novamente os teus cabelos.
Ainda estão assim, brilhantes,mais que vivos! 
Pai, sempre amei os teus tons castanhos.

Meu Deus!Como é que pude duvidar?
Via-me perdida, sem força para me achar.
Foi por isso que não mais orei.
Uma vez que a morte eu simplesmente a desejei.
Mas agora sei. 
Sei o quanto que eu errei! 

Minhas duas gaivotas, 
obrigado por me trazerem de volta.
Por favor, levem para fora.
Quero sentir novamente o brilho da aurora.
Reaprender a voar, refazer meus elos com a natureza.
Não impedirei mais que as minhas asas cresçam.
Adeus, meus pais, sei que um dia voltarei a vê-los. 
Agora tenho certeza!



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Autor: ChicosBandRabiscando
Prosa poética: O anjo da caixa




                                                                                          




Credites: Foto de Keenan Constance de Pexels










sábado, 1 de setembro de 2018

A favela





Art credits:
Mais Vento. Daniela Matchael, n. Brasil. Óleo sobre tela, 76 x 100 cm. 
Uso com permissão da artista ©️Daniela Matchael 



José Flávio era apenas um garoto pobre,
um típico "número" resistente de uma favela.
O menino nascera com a sina de ter sonhos nobres.
Dona Ana, senhora humilde lavadeira,
era a sua mãe solteira.

E a exemplo de toda aquela gente sofrida,
a sorte nunca lhes fora uma boa amiga.
A noite, às escondidas, ele fugia,
desesperada a sua mãe chorava.
Dona Ana não entendia como funcionava a sua cria:

Deus meu, proteja o meu filho;
diacho de menino desinquieto!
Não consigo que fique por perto.

José Flávio era mesmo inteligente,
mas pra certas coisas se faziam indiferente.
O garoto odiava ser o filho de uma crente:

Mãezinha,
não me venha com esse papo de religião.
Será que você não me entende?
Eu não gosto dessas coisas, não!

E os dias na favela nunca mudavam,
mas pra José Flavio tudo isso marcava.
Porém, o "boyzinho" crescia:

Vou deixar essa vida de pobreza.
Ainda farei muita riqueza!
Ainda farei muita riqueza!

Filho,
vê se fica mais em casa.
A tua mãe precisa trabalhar,
tenho muitas roupas pra lavar.

Mãe,
como posso aqui ficar?
Eu não nasci pra miséria,
Um dia deixo esse morro.
Um dia deixo esse morro.
Irei em busca de socorro.

E aos dezesseis ele cumpriu a sua promessa,
e coração de Dona Ana apertou:

Mãe,
tô pegando as trilhas desse asfalto.
Não chore assim, vou "ralar" pra valer.
Apenas tente me entender.

Filho querido,
você é o meu "tesouro",
não esqueça da tua mãe.
Sem você eu morro.
Sem você eu morro!

Não esquecerei, mamãe.
Quero que saiba,
a senhora é o meu "ouro".
Entenda,
tenho sonhos na cidade.
Não deixarei morrer aqui a minha mocidade.

E com seus "sonhos nas costas",
José Flávio foi tentar um novo destino.
Dona Ana sua mãe, se rendia a tristeza:

Onde estiver, oh, meu filho!
Eu ali estarei.
Serei o teu "rastro de saudade".

Na ausência de Deus toda terra é uma "cilada".
Sem a presença do amor a vida está acabada.

Na ausência de Deus toda terra é uma "cilada".
Sem a presença do amor a vida está acabada.

E os meses se passaram,
logo se eternizaram...
E dona Ana na igreja chorava e orava,
mas nada adiantava.
Pois ela não se consolava.
E triste apenas pressentia,
o seu filho não voltava.
Mas mesmo assim as cartas ainda chegavam.
E Dona Ana as lia e relia...
Mas o que mais queria, ela nunca mais via:

Mãe,
não me espere tão cedo, "tô pagando o meu preço".
Logo logo eu cresço.
Te amo,
José Flávio.

E num piscar de olhos dez anos se passaram ...
José Flavio cresceu.
O garoto negro da favela agora era empresário:

Meu Deus, que família linda eu tenho!
"Tô babando" pelos meus pequenos!
"Tô babando" pelos meus pequenos!

Mas a velha mãezinha parece que ele esqueceu:

Meu bem, precisamos conhecer os teus pais.
Talvez um dia.
Talvez um dia...
Mas penso que jamais.
Me expulsaram com a desculpa de estudar.
Amor, deixe assim como esta.
Deixe assim como está.

Foi numa festa das mães que um anjo tocou seu coração:

Não te feche assim ao teu passado,
sou o anjo bom que sempre esteve ao teu lado.
E numa sala reservada ele chorou copiosamente:

Meu Deus,
será que a minha mãezinha estará doente?
O sucesso não fechava os seus elos,
e o remorso agora habitava o castelo.

A sua luz lhe era forte e ele não a reconheceu:

Filho, tenho te um aviso importante.
Sou o teu amor, nunca te fui distante.
Sei que vais viajar além continente;
planejas chegar a Paris.
Postergue essa viagem!
Postergue essa viagem!
Ali, o "anjo da morte" a de cair.

 José Flávio acordou ofegante,
sentia uma dor no peito:
Meu bem, o que está  acontecendo ?
Toda noite é assim, eu estou preocupada!
Não é nada, tudo isso vai passar.
Volte a dormir, a gente precisa descansar.

Mas o sonho marcara a sua noite,
e ele decidiu recolher a bagagem:

Vou adiar a viagem!
Vou adiar a viagem!

E assim postergou o compromisso,
porém, não explicou o motivo.
E a tragédia se confirmou por inteiro.
Meus Deus, mais que sonho verdadeiro!

E pela primeira vez a religião José Flávio abraçou:

Amor, vou procurar o pastor.
Vou procurar o pastor!

Meu filho, vejo que teve um livramento.
Agradeça a esse anjo de amor.
E mais uma vez ele chorou:

Pastor, tenho uma "dívida de sangue" com meu passado.
Pois então pague!
Fica-te aqui você avisado.

E o remorso passou a lhe tirar "pedaços da alma".
José Flávio acordou para toda verdade,
pois era a sua mãe o que mais lhe faltava:

Sou um covarde,
neguei a minha origem.
Mas isso se corrige!
Mas isso se corrige!

Na ausência de Deus toda terra é uma "cilada".
Sem a presença do amor a vida está acabada.

Na ausência de Deus toda terra é uma "cilada".
Sem a presença do amor a vida está acabada.

E num voo partiu sozinho o grande empresário.
Deixava por uns dias o ramo imobiliário,
e bem de manhã "pisava um museu".
José Flávio agora andava sobre a própria história.
Mas uma vez aquela voz familiar lhe voltava à cabeça:

Filho querido, não me esqueça.
Não me esqueça!

O rico empresário voltava a ser apenas um menino.
O garoto da lavadeira que partiu....
Que partiu o coração de sua mãe:

Quando sai daqui era apenas um jovem tolo.
Um menino fujão.
Um ser sem coração.
Me sinto agora sem direção.
Sem direção!

E ali começava a sua própria "via sacra".
Era a tristeza e o remorso;
ambas o "chicoteavam".

José Flávio sentia agora todas as dores da alma.
E numa árvore ele encostou, e tudo bateu mais forte.
Não havia nenhum "Simão" para o consolar.
E assim chorou.
Chorou por mais de uma vez:

Meu Deus! O que fiz da minha sorte!
Tive você, mãezinha.
Mas lhe troquei.
Oh, meu bem profundo!
Perdi o meu mundo!

E mergulhado no mais profundo, apenas dizia:

Mãezinha, vi pra te tirar da miséria.
Tudo sem você já não é paz.
Sou a minha própria guerra.
Tenho sonhos lindos pra tua velhice.
Breve irás morar em minhas terras.

E o sol era mais que insolação,
era a sua própria desilusão:

Por favor, preciso de uma informação.
Procuro uma antiga lavadeira, Dona Ana.
Meu irmão de cor,
vejo que você não é daqui.
És um "preto refinado".
A velhinha que procura se foi.
Um dia o carro a pegou no asfalto.

A pegou no asfalto?
Como pode ser!
Eu não consigo entender?
Eu não consigo entender?

"Parceiro de pele", aqui tem muita gente boa.
Veja você como todos aqui "ralam".
É bem verdade, aqui também "sobra balas".
Dona Ana perdeu tudo, foi a mando do tráfico.
A chamavam de louca.

Mas ela nunca foi louca!
Eu conheci teu mundo simples.
Tudo se resumia as suas trouxas de roupas.

Eu sei "irmãozinho de cor", mas todos a viam pelas ruas...
Recitavas cartas de um filho, um garoto desnaturado.
Foi assim que a expulsaram.

José Flávio se sentiu um derrotado.
O ódio era agora seu mais forte aliado:
Anjo mau desta terra maldita!
Você nunca esteve ao meu lado.
Ainda me farei vingado!
Ainda me farei vingado!

E o anjo da morte beijou-lhe a face por duas vezes.
Ali nascia um coração vingativo.
E José Flávio fazia nova promessa:
Serei novamente o teu filho querido!
Serei novamente o teu filho querido!

Meu irmão, mas quem é você?
Sou apenas um repórter.
Um mero jornalista sem coração.

Mas porque está chorando, meu rapaz?
Não é nada, não.
Apenas perdi meu coração;
e com ele toda a minha paz.

Quatro anos haviam se passado.
Havia muita poeira por aquelas ruas,
e todo o céu estava nublado.
A tempestade havia chegado.
Trazia fardas e seu maquinário pesado:

Derrubem tudo, nenhum barraco aqui fica de pé.
Todo esse chão será arrasado.
Todo esse chão será arado.
E que me importa o sangue derramado.
Hoje serei vingado!
Hoje serei vingado!

José Flávio era a própria tempestade.
Assim, bradava o novo prefeito.
Maquiavélico engenheiro!
Apoiado agora por velhos parceiros.
O (Novo Eldorado) era o seu projeto.
Toda favela cairia por seu ódio cego:

Não quero mais nenhuma tábua, queimem todas lonas.
Arranquem os pregos, distribuam os cassetetes.
Aqui não haverá mais tetos.

E todo o chão se tornara carniça.
Era o seu ódio misturado a cobiça.
Assim, sorriu todo aquele empresariado.
Pois o lucro viria com os condomínios fechados.

Na ausência de Deus toda terra é uma cilada.
Sem a presença do amor a vida está acabada.

Na ausência de Deus toda terra é uma cilada.
Sem a presença do amor a vida está acabada.

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Autor: (ChicosBandRabiscando)