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domingo, 17 de agosto de 2025

O vento

 


O vento

ChicosBandRabiscando


Quantas vezes o vento passou...

Passou...

mas fraco, quase não soprou!


O vento se ajoelhou,

ali orou,

chorou!

Mas ninguém o escutou.


O vento padecia pelo tempo,

já estava lento!

Porém, lutava como nunca.

A sua dor era profunda...

mas ninguém se apiedou!


O vento e os seus lamentos.

Até que um dia, ele teve uma alegria,:

pois venceu a letargia.


E, de tanto bater na pedra bruta,

nasceu o sentimento.

A sua vida passava a ter sentido:

o vento era o próprio espírito.


No tacho, ele mexeu os átomos.

Espertos, os elétrons se debateram em fuga...

o vento vencera aquela luta.


E, do adubo,

a semente deu o primeiro fruto.

O vento estava feliz como nunca!

Agora havia alimento para os sedentos

e para todos os rebentos.


Feliz, a mãe natureza escreveu na pedra uma poesia,

chamou-a de sua obra-prima.


E o vento semeou os elementos,

ganhou o mundo,

espalhou as rimas...


E assim o nosso conto termina.

domingo, 10 de agosto de 2025

Número em série (curto)

 






Número em Série

ChicosBandRabiscando


Diário do meu passado,

Oxalá, que um dia seja encontrado.


Hoje,

quem não é mais um replicante

tornou-se um sistema inoperante.

Um velho elefante!


O amanhã se encontra no divã.

Quem ainda se lembra dos nossos dilemas?

Estamos mesmo em dezembro?...


Algo morreu ou está morrendo...

Já não entendo!

De nós, o que restou?

Não temos mais voz.

A matriz nos desligou.


Nos tornamos cópias do sistema.

Nas telas — rolam reticências...

Como uma sentença, ninguém mais pensa,

O que ainda nos toca?


Parece que não tem mais volta,

não há mais revoltas,

Só  ausência!...


A tecnologia acendeu o trono —

tornou-se algo realmente fascinante.

Decaímos a meros seres ruminantes,

replicantes!


A vaidade é o nosso vício,

trocamos a alma pelo transumanismo.

Será esse o novo Paraíso?


É isso que queremos?

Imortalizar o nosso vazio?

Já não sabemos,

apenas nos mantemos...


Vivemos como peixes de aquário,

aprisionados em qualquer quarto,

navegamos no vácuo...


Nas telas de um mundo abstrato!

Em rede, mas sempre conectados,

seguimos ao fluxo dos dados...

Nos mesmos passos,

está errado!


A verdade é que ninguém mais se espanta.

Programados,

em série...


Plenamente condicionados,

no automático, assintomáticos,

nada mais nos fere.

Nos sentimos leves.


Eu não queria que fosse assim,

mas, enfim...

simplesmente aceito.


Os dias parecem tão perfeitos.

Vejo-me bem alimentado,

o meu sistema reinstalado,

todo meu passado foi apagado,

apenas sirvo ao estado.


A mentira se confunde com a verdade.

Será isso a felicidade?


“Senhor, por favor, o seu número de série.”

— diz uma voz mecânica.


Tal como uma aranha,

uma câmera me acompanha...

Ao lado, mais um robô-soldado:

um novo modelo C1984.


Por favor, senhor,

siga a fila.

Apresente o teu número de série.

Seja breve.

E não erre.


E não erre...

E.

Não.

Erre.


Alerta!

O sistema não pode ser violado.

Mas eu estava lá, era o próprio pecado.

Acidamente corrosivo, explosivo!

Eu me sentia novamente vivo.


Senhor Winston, não faça isso!

Você sabe que não é permitido.

Será destruído!


Alerta!

Alertar!

Nós temos um subversivo,

protejam meus arquivos.


Perigo!

Perigo!


Perigo...



Imagem:https://www.pexels.com/pt-br/foto/homem-conceitual-abstrato-terreno-baldio-8679918/

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Nós




Eu te vigio.

Tu me vigias.

Eles nos vigiam.


É mais do que uma teoria:

É o script do que não pisca.

Quem é que ainda arrisca?


As noites se tornaram frias.

Os dias, fadados à melancolia.

Quem diria...


1984 olhos nas casas, pelas vias...

Criamos uma grande distopia!

Morremos nas telas da monotonia...


Não se fala mais de poesia, a arte está vazia.

Nada mais se cria_ . o Sistema nos copia....

Perdemos a essência, a alegria!


Ninguém mais confia no seu cão-guia.

Presos nessa ilha tão vazia, somos as novilhas.

Um produto da própria profecia da tecnologia.


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ChicosBandRabiscando

Nós








segunda-feira, 28 de julho de 2025

Do Paraíso e da queda



Do Paraíso e da Queda

ChicosBandRabiscando


A dopamina explica o vício.
Talvez por isso nos iludimos com fogos de artifício.
A verdade é que não existe cura sem uma vacina,
mas douramos a pílula com as nossas mentiras.

Há uma sina no vazio —
algo que nos contamina.
Aos poucos, a alma vai se queimando,
pingando em parafina...
E a dor parece nunca ter fim.
A alma perdeu seu brilho —
a cada dia, é um martírio nesse exílio.

Parece que já não importamos.
E, como uma manda,
nos arrastamos em busca do nada,
cada vez mais cansados da vida.
O que fizemos da Terra Prometida?
Alguém me diga...

Nada mais parece fazer sentido —
saltamos num grande vazio.
Será que ainda estamos vivos?
O tédio virou um vício...

E se ainda há sangue,
faltam-nos as veias...
O que ainda nos permeia?

Na tela, não encontramos a saída.
No labirinto, a alma grita em fadiga.
Do cadafalso, nos atiramos no vácuo.
Estamos sempre caindo,
mas, fingindo, seguimos...

Afogados no próprio grito,
rendidos ao ego,
rumamos ao fundo do abismo...
Será que ainda existimos?

Entre a luz e as trevas, às cegas,
sem ao menos um paraquedas,
inventamos novas guerras.
A dualidade é a nossa moeda.
A cobiça nos entrega!
Esculpimos a nossa própria ruína.
É algo que nos consome:
lobos do próprio homem.

Mas... onde estão os lírios?
O Paraíso?

sábado, 14 de junho de 2025

O último parafuso impresso


Ainda tentamos apertar o último parafuso...
Mas tudo anda confuso...
Até parece que somos intrusos habitando um outro mundo.
Que absurdo!

O automatismo vai tomando conta de tudo...
O real se tornou tão abstrato
que o avatar é o nosso autorretrato.

Os sentidos se veem corrompidos:
a nova fé é o dataísmo.
Do Paraíso,
saltamos para o Trans-Humanismo.

A sensação é que tudo foi violado,
não sabemos mais se ainda temos um lado?

Nos vemos embriagados por resultados,
fascinados, seguimos ao fluxo dos dados...

E a disrupção, a cada dia,
nos apresenta uma nova versão...

Perdemos o chão!
Não há mais relatos de pane no sistema:
a máquina tornou-se a mãe dos poemas.

Sem mais dilemas...
as almas se calam,
mas a dor não passa!

Assim nos vemos robotizados:
presos à rede, como peixes de aquário.
Solitários, mas também conectados.

Os algoritmos vão ditando o ritmo...
O sistema é preciso, é um vício!
A linguagem tem outro dialeto,
estamos matando o nosso alfabeto.

Mais do que isso...
o Paraíso agora é sintético:
de suas fábricas nascem os bebês de borracha.
Aos poucos, a vida vai perdendo os seus gestos.

Sabemos que está errado,
pois nos vemos cansados,
programados para dar errado.

Da imanência à transcendência,
a consciência é uma bênção!

Não podemos perder as nossas referências
por esse excesso de ausência...

Talvez eu esteja a escrever o último manifesto.

O que é mesmo... esse futuro?

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O último parafuso impresso 
ChicosBandRabiscando